Yoga e Emoções: como as posturas libertam o que o corpo guarda

Já reparaste como o teu corpo muda quando estás triste? Os ombros caem, o peito encolhe, o olhar baixa. E quando estás confiante? A postura se abre, o peito se expande, o queixo se ergue. O corpo fala — mesmo quando a mente ainda não encontrou as palavras.

Na prática do yoga, este diálogo entre corpo e mente é o centro de tudo. Mas poucas vezes nos damos conta do quanto cada movimento e postura (asana) pode revelar — ou despertar — emoções profundas. Vamos explorar essa ligação com cuidado e curiosidade.

 
 

A conexão entre corpo, mente e emoções

A ciência já confirmou o que as tradições ancestrais sempre souberam: corpo e mente não são entidades separadas. De acordo com estudos em neurociência e psicologia somática, as emoções não são apenas experiências mentais — elas têm uma expressão física real. O sistema nervoso responde a estados emocionais através do tônus muscular (grau de tensão ou resistência presente nos músculos quando em repouso ou durante o movimento), da respiração, do ritmo cardíaco e da postura corporal. (Ogden, Minton & Pain, 2006)

Por exemplo:

  • Emoções como medo, tristeza ou frustração costumam ser associadas à contração: encolhemos, protegemo-nos.

  • Emoções como alegria, amor ou confiança expandem: abrimos o peito, ocupamos espaço.

Esses padrões posturais emocionais são aprendidos e repetidos ao longo da vida — e acabam por se tornar habituais, muitas vezes inconscientes.

As posturas de yoga como portais para emoções (e energia)

Quando te deitas em Savasana no final da aula e sentes um nó na garganta…
Quando abres o peito em Ustrasana (postura do camelo) e sentes vontade de chorar, sem saber porquê…
ou quando te entregas em Balasana (postura da criança) e surge uma sensação de refúgio e acolhimento…

Isso não é acaso. É inteligência do corpo.

Cada asana (postura de yoga) é muito mais do que uma forma física: é um portal para o mundo interno — emocional, nervoso e energético.

Ao entrarmos numa postura com presença, ativamos circuitos neuromusculares que influenciam diretamente o sistema nervoso autónomo, responsável pelas nossas respostas de segurança ou ameaça. Mas há também algo mais subtil a acontecer: movimentamos energia vital (Prāna).

Na tradição do yoga, essa energia circula por canais subtis chamados nadis e organiza-se em centros energéticos chamados chakras. A palavra "chakra" vem do sânscrito e significa "roda" ou "vórtice". São centros de energia que absorvem, distribuem e emitem energia vital para nutrir o corpo, a mente e o espírito. Por exemplo:

  • O chakra cardíaco (Anahata), na região do peito, relaciona-se com amor, dor emocional, confiança e vulnerabilidade. Posturas que abrem esta área podem despertar memórias ou emoções guardadas.

  • O chakra raiz (Muladhara), na base da coluna, está ligado à segurança, estabilidade e sobrevivência. Posturas de enraizamento, como Malasana ou Tadasana, podem trazer uma sensação de presença — ou confrontar inseguranças mais profundas.

Neste sentido, a prática de yoga atua em várias camadas ao mesmo tempo:

  • Física, através do corpo em movimento.

  • Neurológica, através da regulação do sistema nervoso.

  • Emocional, ao trazer à superfície experiências guardadas.

  • Energética, ao desbloquear o fluxo de prana e restaurar o equilíbrio subtil.

O corpo é uma ponte entre o visível e o invisível. Quando nos movimentamos com consciência, abrimos espaço para libertar não só tensões musculares, mas também emoções não expressas e bloqueios energéticos que ficaram acumulados.

Por que devemos ter cuidado ao entrar nas posturas

Nem sempre estamos prontos — fisicamente ou emocionalmente — para certas formas.

Aberturas de peito, por exemplo, como Anahatasana ou Setu Bandhasana, podem evocar sensações de exposição, vulnerabilidade ou tristeza. Posturas que ativam o abdómen ou a pélvis podem tocar em temas ligados à autoestima, sexualidade ou segurança.

O corpo guarda histórias. E por vezes, uma postura é suficiente para desbloquear algo guardado há anos.

Por isso, é essencial:

  • Entrar nas posturas com intenção e escuta.

  • Oferecer variações e escolhas ao corpo.

  • Respeitar os limites sem julgamento.

  • Honrar a dimensão emocional da prática.

Como diz Peter Levine, criador do Somatic Experiencing, “O trauma não está no evento, mas no corpo que não conseguiu completá-lo”. O mesmo se aplica às emoções: muitas vezes, o corpo só precisa de espaço seguro para libertar o que foi guardado.

Yoga como caminho de regulação emocional

A prática consciente de yoga, especialmente com um olhar somático, ajuda a:

  • Reconhecer padrões corporais emocionais. Começamos a perceber onde tensionamos, onde encolhemos, onde evitamos.

  • Regular o sistema nervoso. Através do movimento lento, da respiração e do foco interno, criamos novas associações de segurança no corpo.

  • Liberar tensões emocionais de forma gentil. Ao mover o corpo com presença e sem julgamento, o corpo sente-se seguro para processar o que ficou guardado.

  • Equilibrar a energia vital (Prāna). A fluidez energética acompanha a presença emocional.

  • Construir confiança interna. Quando respeitamos os limites do corpo, restauramos a confiança — e isso transforma tudo.

Quando estiveres a praticar, experimenta perguntar ao corpo:

“Esta postura é segura para mim agora?”
“Sinto que estou a forçar, ou a ser gentil comigo?”
“Posso fazer menos… e ainda assim, estar presente?”

 
 

O corpo é um livro aberto — e as posturas de yoga são as páginas que nos ajudam a ler o que estava esquecido.

Nem sempre é confortável. Às vezes, é desafiante. Mas com presença, intenção e apoio, cada prática pode ser um passo de volta a ti.

Sê gentil.
Sê curiosa.
E acima de tudo, escuta.

Com leveza e presença,

Inês Catarina, Yebà

 
 

 

criamos práticas para que possas reencontrar-te contigo mesma — no teu tempo, com respeito e presença.

Pronta para aprofundar esta ligação entre corpo, mente e emoção?

 
 

Referências:

  • Levine, Peter. Waking the Tiger: Healing Trauma. North Atlantic Books, 1997.

  • Ogden, Pat, Minton, Kekuni, & Pain, Clare. Trauma and the Body: A Sensorimotor Approach to Psychotherapy. W. W. Norton, 2006.

  • Van der Kolk, Bessel. The Body Keeps the Score. Penguin Books, 2014.

  • Mehling, W.E. et al. (2011). Body awareness: a phenomenological inquiry into the common ground of mind-body therapies. Philosophy, Ethics, and Humanities in Medicine.

 
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